quinta-feira, 26 de novembro de 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Simone, eu e Belladona


Simone, Eu e belladona


Simone, eu e Belladona

Qual não foi minha surpresa quando disseram-me que entre a minha foto nua na praia naturista do Rio de Janeiro e a foto das tantas garotas de programa na Internet não havia diferença. Antes de ficar pasma, furiosa ou muito triste tentei colocar meu olhar no mesmo lugar do interlocutor e procurar todas as possíveis semelhanças entre mim e as moças.
Encontrei algumas: nós gostamos do nosso corpo (X); achamos importante por diversos motivos mostra-lo (X); nos alegramos com os elogios recebidos (X); se aproximam de nós apenas os homens que consentimos (X).
Não sei quantos olham mais para mim ou para para o mar quando veem a foto, mas o que quer que façam isso não é um problema meu e que bom que abro espaço na imaginação de meus interlocutores para as suas fantasias... Fora isso, só vi as diferenças... Elas ganham dinheiro com suas fotos; eu não. Elas são infinitamente menos preconceituosas que eu quando fazem suas escolhas, amam os feios, os barrigudos, os peludos; eu não. Já devem ter conseguido superar o medo da violência sexual, pois sabem que é uma exceção, eu não. Estou presa ao mundo perfeito da burguesia, onde todos só vivem para o que é belo, diferente e não se preocupam com os problemas do mundo real. Elas não, tem casa e familia para sustentar.
As moças não se incomodam de serem reconhecidas apenas por suas qualidades físicas, eu, se pudesse - ás vezes - deixaria minhas pernas e bunda saírem sozinhas, meu cerébro as atrapalham muito, pois ele seleciona os candidatos a partir de valores sociais, econômicos e não apenas pelo que importa; olhar, cheiro e sorriso.
Aos 40 anos Simone de Beauvoir, uma mulher culta e bonita, reconheceu sua "velhice" sua não-capacidade de atrair mais seu feio e amado pequeno homem; Sartre.
Deus, livre-me disso, afinal, não sou ateia e pratico minha devoção protestante-cristã indo à igreja aos domingos.

sábado, 7 de novembro de 2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Á minha querida Sofia e o seu rapidinho

Sofia é minha aluna de dança, tem 5 anos e uma lucidez impressionante para a idade. Outro dia chegou na sala muito chateada e quis ficar sentada enquanto eu começava a aula. Como de costume, sentamos numa rodinha, joelhos dobrados e pés se tocando, mãos próximas ao coração. Juntos respirávamos e ouvíamos um CD de mantras indianos, nos movíamos e respirávamos fundo durante a música, como numa prática de yoga. De repente Sofia desatou num choro, chorava copiosamente. Parei a aula e perguntei o que acontecia. Em um discurso muito lógico ela falava na saudade que sentia do seu peixinho, o rapinho, engolido por outro enquanto a família estava fora. Ela estava arrasada e, apesar do choro ela conseguia dizer exatamente o que sentia, dizia que não conseguia esquece-lo e sentia-se culpada por um dia ter alimentado muito os outros peixes do aquário até que um deles um dia comeu seu rapidinho. Todas as outras crianças, da mesma idade ou menores, tentavam reconforta-la, dando palavras de carinho, falando de suas experiências com seus bichinhos prediletos, oferecendo-lhe água etc. Fiquei muito comovida com tudo, aquela criança que expressava sua tristeza de forma precisa, as outras que a entendiam perfeitamente, de repente nos sentimos, todas, muito unidas pensando em como aplacar a dor da pequena Sofia, que estava em dor. Depois tudo foi superado e aula seguiu com sua dinâmica e brincadeiras de sempre. Sofia participou bem até o fim e por sua ótima participação ganhou uma brincadeira extra que ela mesmo escolheu: me fazer de helicóptero e fazê-lo girar em torno de mim. Passei a semana pensando na Sofia, na perda que sofreu e na capacidade que teve de entrar em contato com seu sentimento e expressa-lo, espero que que o mundo adulto não tire dela essa sensibilidade.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Liberdade de imprensa


Certa vez em uma coluna social da fonte oficial de informação que domina a cidade (RJ) vi a imagem de algumas bundas sendo comparadas à pêras, melancias, maçãs e por ai vai...até ai meus olhos não estranharam, o que me surpreendeu foi que ao lado havia uma noticia sobre escolha para celebração de uma turma para sua formatura (não me lembro agora o curso e a cidade), mas o autor da coluna parecia indignado com a escolha dos homens da turma: Uma noite com uma prostituta em um hotel da cidade.

Fiquei pensando: quanta repressão quando se fala de corpo! Nos jornais pode as bundas que povoam o imaginário masculino, e feminino, não pode o nu dos trabalhos de arte contemporânea, críticos e sem glamour, não pode as prostitutas, mas pode o nu da playboy quando lindas mulheres realizam suas fantasias sexuais e se transformam em mulheres da vida por um dia.

Será que as pessoas acham que basta ficar nu para tudo de estranho no mundo acontecer? Que relação será que temos com nosso corpo para que tal pensamento predomine na sociedade burguesa?

Vejamos o que pode potencializar um corpo nu...vamos sair por ai transando com todos e todas, sem limite, vamos chocar nossos chefes, parentes e amigos com nossos corpos nus (que são todos, com certeza, iguais aos dos homens e mulheres das capas de revistas de moda; sequinhos, sequinhos).Uma vez livre dos tabus vamos cometer incestos, abusos sexuais , vamos nos tornar pessoas muito violentas. Vai aumentar o número de pobreza no mundo, países irão ser invadidos.

Prostitutas não prestam, só quando temos pena delas, afinal, não podemos conceber que essas mulheres tenham prazer no que fazem, isso, é claro, não é possível!Casais que se aventuram a ter fantasias sexuais com outros casais são depravados.

Pais e mães vão ser assassinados por seus filhos pois irão descobrir que a culpa é toda deles!

Ufa...o que pode um corpo?

Não amar, não pensar, não transgredir, não ter prazer...obedecer, obedecer...obedecer.


Noticia sobre Carmen Jornal do Comercio


Espero que desta vez vocês possam ler a noticia!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Noticias sobre Carmen 2


A nota ao lado saiu no Globo Zona Sul do dia 18/09.

Noticias Sobre Carmen

Infelizmente meu analfabetismo digital impediu de colocar decentemente uma linda noticia escrita como muita delicadeza e sensibilidade pela jornalista Fernanda Marot do Jornal do Comércio do dia 18/09.

A partir de textos meus e de uma conversa telefônica ela fez esse ótimo trabalho. Alias, para surpresa minha, tudo o que foi divulgado na imprensa foi escrito baseado exatamente no que eu falei, fiquei muita grata, procurei ser bem clara com o público de forma que eles não viessem ao teatro imaginando ver uma imitação da Carmen Miranda e sim, um trabalho autoral, crítico e pollítico sobre o universo da solidão. Neste caso especificio; a solidão do sucesso.

Mais adiante haverá uma postagem melhor dessa noticia. Garanto-lhes.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

noticia globo online 18/09/09

A coreógrafa Helena Vieira em 'Carmen'/ Divulgação (Raquel Dias)

RIO - O mote para o espetáculo que a premiada coreógrafa Helena Vieira estreia nesta sexta (18.09) no Sesc Copacabana é Carmen Miranda. Mas que o público não espere a famosa exuberância e a alegria escancarada da cantora luso-brasileira. Pois aqui o tema é a solidão - mesmo que ela apareça no palco munida de certos badulaques.

"Carmen" fecha a trilogia que Helena começou com os solos "À Simone da Bela Visão" (2005) e "Maria José" (2007, prêmio Rumos Dança Itaú Cultural). A própria Helena interpreta não a Carmen Miranda, mas sim as Carmens anônimas, que vivenciam a solidão do cotidiano.

- A personagem de que falo não é a dos shows, dos cassinos, das roupas luxuosas e extravagantes. Mas, sobretudo, a mulher solitária que estabelece um ponto em comum com tantas outras - explica.

O espetáculo fica em cartaz só até o dia 27 de setembro.

Carmen. Espaço Sesc: Rua Domingos Ferreira 160, Copacabana. Sextas e sábados, às 20h, e domingo, às 19h. Ingressos: R$ 10 (inteira), R$ 5 (estudantes e idosos) e R$ 2,50 (comerciários).

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

release final

A inspiraçao para terminar essa trilogia foi Carmen Miranda, depois dela outras tantas mulheres se juntaram a nós.Famosas, anônimas, próximas, reais e imaginárias e juntas criamos outra Carmen.

release final

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Clarice, Carmen e vovó



Li na epígrafe de um livro:

Era o meu sonho ter várias vidas. Numa eu só seria mãe, em outra vida eu só escreveria, em outra eu só amava.

Clarice Lispector.

Havia me distanciado de Clarice, isso ja fazia muito tempo...fui fanática por ela na adolescência, depois a esqueci, ela era muito intensa, cansei um pouco. A menina muito sensivel da adolescência, chorona e sonhadora estava precisando dormir um pouco para aparecer uma pessoa mais aguerrida, necessário para enfrentar a vida, cheia de jacarés, leões e cobras.

Outro dia fui ao teatro, assiti um lindo infantil adulto, dirigido por Cristina Moura, com Mariana Lima, Luciana Fróes e Renato Linhares, A Mulher que matou os peixes...e outros bichos. A peça é linda, preenchida com todos o simbolismos de uma infância revista por adultos sensiveis e artistas que não colocam em hierarquia corpo, voz, interpretação. Quando li o programa, antes de entrar no teatro me indentifiquei com o programa que dizia ser uma peça em que a atriz "Se impôs um desafio: fazer algo que nunca fez, viver uma experiência nunca vivida." Lembrei-me certa vez em Uberlândia, após a apresentação de Maria José, a segunda parte da trilogia, durante um bate-papo que eu disse "no proximo trabalho devo entrar nua, loira e cantando!, quero cantar!". O nu desapareceu, o trabalho não pediu, a loira está firme e o canto, aparecendo...portanto sinto-me grata de ter seguido o desejo de propor um desafio a mim mesma. Certa hora na peça, Mariana diz mais ou menos isso;" Faça o que gosta, pinte, desenhe, dance, assim o coração esquenta e não vive a solidão." Achei que era fala de Mariana, soube depois que era Clarice! Nossa! Voltei a querer ler Clarice, e ela apareceu na epígrafe de um livro que uma pessoa, que pouco conheço, quis presentear-me, livro que também é obra de uma escritora. Tudo se encaixando...e, a frase apareceu quando coloquei em cena a foto de minha avó com meu pai nos anos 40.Vovó é contemporânea de Carmen, fisicamente sou cara dela, ja da para saber como serei bem velhinha.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Release 4

Espetáculo que encerra a pesquisa sobre gênero, iniciada em 2003. É um espetáculo de fala cantada em que homenageio as artistas que construiram com suas risadas e lágrimas belas trajetórias artísticas, da qual hoje todos nós desfrutamos. Faço o paralelo entre a vida de duas mulheres artistas, uma dos anos 30, Carmen Miranda, e a outra, uma mulher contemporânea, ambas colocam no palco sentimentos comuns.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

influências musicais do espetáculo



Estou vendo o espetáculo assim:

É um espetáculo de origem tropicalista, há mistura de estilos e épocas, bem ao jeito de uma geração, que é a minha, que ainda teve a forte influência da MPB, de resistência contra a ditadura, mas que cresceu no auge da invasão musical pop norte-americana. Por tanto, ouvir Chico Buarque, Michael Jackson, não vestir camiseta "beba coca-cola", nem querer conhecer a Disnelândia, como a maioria das crianças, mas ouvir todos os sons pops, porcarias ou não, era bem possivel. Nasci para uma resistencia, mas cresci tropicalista.

Essa é a minha influência musical, porém o espetáculo fala de uma Diva, e uma diva do mundo musical, portanto, o trabalho se tornou muito musical. E eu descobri um enorme mundo de grandes artistas e intérpretes, da mpb dos anos 30, do blue americano até o clássico heavy metal inglês de Iron Maiden, passando por uma ótima música eletrônica. Finalmente, já não era sem tempo, comecei uma educação musical. Aprendi a cantar, como parte do desafio proposto para esse espetáculo, duas canções do repertório de Carmen; Disseram que Voltei Americaniza", de Luiz Peixoto e Vicente Paiva e South American Way, Jimmy Mac Hugh e Al Dubin, que o bando da Lua adaptou.

Começo com Aracy de Almeida, contemporânea de Carmen e de estilo bem diferente, a escuto no radio que ligo no camarim, outra referência forte à época e a um meio de comunicação que adoro.

Disseram...além da beleza da letra, fala de resistência, de certa revolta. É uma encomenda de Carmen a Luiz Peixoto, grande homem do teatro na época, depois da decepção sofrida em show beneficiente de 1940 no Cassino da Urca, quando a plateia, basicamente militar, lhe foi indiferente. Achei curioso o fato e linda a música e a sonoridade por ela proposta. Vários cantores gravaram, e muita gente nem sabe mais que foi escrita para ela, consequencia do bem que é por todos compartilhado.

Depois Ai, ai, ai... minha deixa para fazer meus comentários. Brinco com o sotaque carregado que era sua marca, e falo de ser Americana! Novamente, outra caracteristica da geração tropicalista "somos brasileiros e estrangeiros", já dizia Caetano Veloso.

Entre uma canção e outra ataco, por ora, com a música Tropicália de 1967, composta por Caetano, uma total mistura de sons, algo provocador na época. É uma loucura total. Ali sou eu colocando toda munha loucura para fora, loucura que sai de cartas que jogo no chão, cartas de ex-amores, ex-amizades, ex- Helenas... balde cheio de rolhas...

Desnecessário dizer, que fiquei vidrada nas cantoras, em como elas cantam e mostram na voz, tudo o que pensam ou sentem.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

releases provisórios


Release 1.

Carmen, segue a linha de pesquisa iniciada com os solos À Simone da Bela Visão (2005) e Maria José (2007). Escolhi a figura de Carmen Miranda para fechar esta trilogia sobre gênero por que compreendo essa artista como um bem compartilhado por milhões de brasileiros e estrangeiros, de todos os sexos. A Carmen de que falo não é a dos shows, dos cassinos, das roupas luxuosas e extravagantes, mas a mulher que viveu a vida de maneira alegre, amável e elegante, e que, apesar de toda a fama e popularidade, morreu só.



Release 2


A ideia do trabalho é que com a conclusão desta trilogia, eu termine um assunto. Propus, ao longo dos trabalhos solos, iniciados em 2003, a construção de uma poética com meu corpo, o desejo de alcançar uma linguagem autônoma construída a partir dos diversos estados físicos que criei com os trabalhos anteriores. Meu corpo tornou-se um depoimento. A fim de encontrar resposta para a pergunta infantil; “Por que mulheres são sempre solitárias quando tornam-se ricas e famosas? Foi então que deparei-me com Carmen Miranda. Ela é nosso bem comum, pertence a todos nós, de alguma maneira, a conhecemos, repetimos seus gestos, seus sorrisos e trejeitos, a imitamos mundo afora e assim nos comunicamos com seu universo. Construir esse espetáculo e ter pela primeira vez colaboração de tantas artistas me apoiando e amparando, inclusive de uma tão famosa, foi para mim uma celebração, uma revelação.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

texto dos ensaios


Tenho muitas dúvidas quando começo a imitar os trejeitos de Carmen Miranda, sinto-me ridícula, me critico, me julgo. Acho que nesse momento estou trazendo uma caricatura e nada de contribuição à cena.


Tenho certeza que com esse trabalho o que quero é despedir-me da solidão, que foi uma cara companheira, mas não a quero mais, embora reconheça tudo o que ela me trouxe. Para mim, Carmen ilustra a solidão de que falo.


Mostro dois momentos de sua vida e gostaria de colocar o meu corpo como um interlocutor. O primeiro, é de dor, anos 1940 quando surpresa, percebeu que não estava agradando certa plateia. O segundo momento, em plena Holywood, quando vive o esplendor de ser uma Diva estrangeira, com sotaque, de um lugar desconhecido e exótico: America do sul. A Carmen Miranda estrangeira. O que é ser estrangeira?É ser exótica a algum olhar?


Já não sei se foi Raul Seixas, ou Caetano, como ele afirma mas... " Sou estrangeira e sou brasileira."




sábado, 20 de junho de 2009

Carmen

Carmen, a terceira parte da trilogia sobre gênero, estreia em setembro.

A Carmen Miranda de que falo não é a dos shows, dos cassinos, das roupas luxuosas e extravagantes , mas a Carmen, que apesar de toda fama e popularidade, morreu só, e que foi durante a vida amável e elegante com homens e mulheres.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Por que escolhi Carmen Miranda?

Na minha casa há um balde de rolhas de vinho, venho colecionando-as há dez anos, o balde está bem cheio, posso dizer que poucas das rolhas que estão ali foram de garrafas compartilhadas, e as que foram, compartilhei-as apenas por um breve momento. No início era interessante, vivia num lindo apartamento, grande, de paredes coloridas, muito charmoso em que cada canto era minuciosamente decorado, estava sempre limpo e arrumado e embora convidativo para uma outra vida a dois, nunca aconteceu de alguém aparecer com sincera vontade de compartilha-lo comigo. Não sei se eram eles, ou eu, que não tinha vontade de compartilhar uma vida.

Fiz planos durante o tempo nessa primeira casa: quando tirasse o DIU seria para engravidar de vez do meu companheiro, entraria para o mestrado, depois para o doutorado, quando mudasse da casa seria para ir para outro apartamento acompanhada. Chegou o dia que essa linda casa arrumada com muito amor por mim e para mim um dia teve que ser entregue. Fiz a mudança desacompanhada carregando sozinha as caixas de livros e os pertences. O que eram planos individuais eu os realizei, mas todos os em dupla, não consegui. Pelo menos uma coisa a casa arrumada parece ter representado: foco nas minhas escolhas profissionais, mas por que isso, para mim, teve que significar solidão afetiva?

Por muito tempo acho que imprimi um jeito de pensar amor como uma guerra; uma guerra entre os sexos, uma competição, e eu tendo que estar no comando para não perder nada, para não ser enganada ou desrespeitada como minhas antepassadas, por isso, tinha que estar o tempo todo armada para defender-me, estar sempre no controle da situação. Ser mais masculina que feminina. Olhava em volta, e via todas as mulheres da minha geração, independente das famílias e lugares de origem, levando a vida desse mesmo jeito, então não me achava diferente. Acho que não queríamos perder o que já tinha sido conquistado por mulheres antes de nós.

Encarava bem cada fim das relações amorosas acho que por que via amor como algo impermanente, ou que talvez, como algo que pudesse me prender, além de não saber realmente o que era preciso fazer concretamente para amar, não me ensinaram. Na minha ignorância, amar seria algo que naturalmente aconteceria a uma mulher ou a um homem, nada era preciso fazer para conquista-lo e cultiva-lo. A cada fim de uma relação achava que tudo ficaria logo bem já que outros amores me aguardavam e era preciso encontra-los logo.E o tempo até aqui seguiu assim com a carreira como algo permanente, e amores, não.

E é ai que história de Carmen Miranda é também a minha história e de muitas outras mulheres – sim, se a solidão é assunto de ambos os sexos é nas mulheres que a vejo com mais freqüência, por isso escolho Carmen como símbolo dessa solidão que também marca meus trabalhos desde 2003. Observo mulheres que meditam e tentam achar uma solução para combinar a vida amorosa com uma profissão efêmera, competitiva, cheia de glamour e armadilhas, superar tudo e ser bem realizada nela. Carmen em certo momento da vida dizia que queria largar tudo para realizar o sonho de ser mãe e esposa, e isso quando era uma das atrizes mais bem pagas de Hollywood, ganhando mais até que um homem.Mas nenhum homem, é claro, queria ser mr. Miranda Morreu sem conseguir realizar esse desejo.

E é disso que o trabalho fala, por que o sucesso (digo um estrondoso e glamoroso sucesso) é garantia de felicidade para o homem e solidão para a mulher? No entanto, gostaria de falar sobre isso de uma forma alegre, popular e bem humorada tal como Carmen que conquistava homens e mulheres de forma genuinamente leve.

terça-feira, 31 de março de 2009

Vamos partilhar o que temos em comum?

Outro dia, faz tempo já, mas na velocidade que vamos, fazem anos, embora não tenha feito um mês. Enfim... o quero dizer é que venho já faz muuuuito tempo pensando que tudo é de todos, não vai ai nenhuma novidade, tampouco tem a ver com o comunismo - de Estado - que conhecemos, é simplesmente uma constatação que parte da observação natural enquanto ando pelas ruas da cidade e vejo que possuímos - e partilhamos- coisas em comum. Mas outro dia presenciei uma discussão que ilustra o meu pensamento. Estava numa festa e vi dois fotógrafos que combriam o evento discutindo, era assim a conversa:

-Ei, cara! Cuidado ai não pisa no sofá, não!
(diga-se de passagem: um lindo sofá feito de ferro retorcido e no assento lindas imagens de Carmen Miranda, realmente de muito bom gosto e muito bem feito).
-Qualé cara! Ta estressadinho, heim?! Por acaso é você o dono dele?
-Não, não sou, mas vi o trabalho que foi fazê-lo.

Tem ai nesse diálogo trivial, tudo o que quero dizer: Se não é você o dono do objeto por que cuidar dele? É a primeira surpresa de alguém. Mas o rapaz pensou: no trabalho= o tempo que uma pessoa levou para construir o objeto, essa pessoa por sua vez pensou no uso comum= pessoas sentarem, logo, ele pensou= que aquele objeto merecia um cuidado.

Mais do que natural que ele tivesse alguma consideração pelo objeto ou pela pessoa. Mas por que o outro rapaz estranhou tal atitude? Vejamos:

1. Eu trabalho para ganhar o meu dinheiro e no fim comprar as minhas coisas.
2. Só preciso cuidar de mim, e cada um que cuide de si.
3. Eu posso fazer o que eu quiser por que eu estou pagando
4. São inúmeros os trivais exemplos de como fomos privatizando tudo e normalizando essa atitude, já que:

a. O governo não faz nada
b. Todos roubam (erram, avançam sinal, ocupam calçadas, etc) por que eu também não posso?
c. O Estado não me nada.
d. Todo político é desonesto ( claro, quem fala essa frase é sempre muito ético em tudo).

Onde quero chegar com essa história? Quero artisticamente discuti-la esse é meu próximo projeto incentivado, sem saber, por Ruy Castro ao questionar o que eu e ele tínhamos em comum; o amor pela história de Carmen Miranda, seu espanto não foi com o amor por ele provocado, o fato é que eu não poderia fazer nada com isso antes de avisar a família, pois ela sim, era a dona de Carmen Miranda, a Carmen que, por enquanto, só existe na minha imaginação, diga-se de passagem.

Vídeo Á Simone da bela visão


http://video.google.com/videoplay?docid=1790325218445586055&q=source%3A008928416825295564596&hl=pt-BR

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ruy Castro: uma desilusão


Muito feliz caminhei até o museu Carmen Miranda no primeiro dia de comemorações do seu centenário. Levava em minha bolsa o livro de Ruy Castro para ser autografado e na cabeça um texto memorizado. Mesmo tendo me preparado o dia inteiro, algo me aconteceu no caminho que cheguei muito atrasada, perdi o debate e tive que ficar para ver o filme e só depois falar com ele. Bom, eu não iria perdê-lo de vista e iria de todo jeito dizer o texto preparado. Mal o filme terminara e, ainda sob o som ensurdecedor das caixas de som, mostrei meu livro a ele que imediatamente entendeu o que queria, foi ai que disse meu muito preparado texto:

- Olha, depois que li teu livro fiquei muito inspirada para fazer um espetáculo! E eu consegui a grana para fazê-lo! Disse isso com um sorriso enorme, infantil e ingênuo, apostando em uma única reposta. Não foi a que veio. Ele secamente responde:

- Você sabe que tem que falar com a família, não? Que tipo de espetáculo?

Aquele sorriso infantil, ingênuo, some do rosto e vem uma cara de frustração enorme.

-Um espetáculo de dança contemporânea. Sim, claro que vou falar com a família. E saio imediatamente dali querendo jogar o pesado livro autografado fora.

Meu Deus! Que amarga decepção. Nunca havia passado por isso; achar que estou homenageando um artista e ele achar que inspiração é sinônimo de plágio ou coisa parecida. Alguém acha mesmo normal hoje em dia deter a propriedade de símbolos tão universais? Como pagar à família cada vez que imitamos Carmen nas ruas e nos carnavais? Há um valor para isso?E pior; mal sabe ele que nós, bailarinos, não criamos espetaculos rentáveis. Que pena que tive esse encontro, podia ter ficado sem essa e ainda hoje estaria encantadissíma com a escrita e narrativa do livro.Que são belas.

sábado, 31 de janeiro de 2009

àrabe

Para a minha primeira criação, à Simone da Bela Visão (2005) um tema recorrente para mim era o mundo árabe, tanto o palestino quanto o judeu. Cismei que eu era uma mulher do deserto ou do tempo de Jesus. Tinha sonhos com mulheres de cabeça coberta e panos pretos, eram, para mim, judias ortodoxas. Cresci sem religião, criada por pais materialistas e comunistas e educada em escolas progressistas ou praticantes da teologia da libertação. Aos 19 anos decidi ser batizada na igreja Luterana de Ipanema (RJ), mas só aos 30 passei a frequenta-la assiduamente; virei uma protestante, com cara de palestina que se apaixona muito por homens judeus. Isto talvez prove a estupidez de permitir que a religião dite as normas de um Estado. Imagino o tanto de infelicidade que não deve estar provocando a proibição ao amor livre de religiões e tradições. Com casamentos mistos haveria ódio em Israel? Como se distinguiria a criança judia da palestina? Estariam elas em guetos? Essa foto foi tirada numa praia naturista do litoral de Santa Catarina, sul do Brasil. Meu sorriso estampa a alegria de estar em um lugar como esse em que a lei é ficar nu. Um lugar que experiencia, por alguns momentos, uma real democracia e falta de preconceitos, lugar onde todos são iguais, pois sem roupa como pode você demonstrar o seu status social?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Madonna


Fotos do começo da carreira, quando ganhava tostões tentando ser bailarina. Hoje aos 50 anos é poderosa, parecendo mais feliz e realizada que Carmen Miranda, já que homens, amores, filhos e paixões não parecem ser obstáculos para sua carreira. Seu belo corpo, cheio de curva, carne e pêlos (há pêlos no sovaco!) agora é mais que andrógino, é masculino, é intocável.
Não sei por anda anda Amy Winehouse, louca e maravilhosa, mas ela apareceu na criação do bailarino Marcelo Braga no espetáculo III Danças no Sesc-Copacabana e foi tocante! Ele aparece sob uma luz de discoteca ao som quase ensurdecedor da fossa de Amy e dança feliz. Vendo-o me inspirei: a fossa e a tristeza de Carmen encontrarão com a minha no novo espetáculo, abrirei minha caixa de guardados e falarei dos meus desse lugar intocável, pouco feminino, que escolhi para estar por tanto tempo. Muita água vai rolar...