quarta-feira, 24 de junho de 2009

texto dos ensaios


Tenho muitas dúvidas quando começo a imitar os trejeitos de Carmen Miranda, sinto-me ridícula, me critico, me julgo. Acho que nesse momento estou trazendo uma caricatura e nada de contribuição à cena.


Tenho certeza que com esse trabalho o que quero é despedir-me da solidão, que foi uma cara companheira, mas não a quero mais, embora reconheça tudo o que ela me trouxe. Para mim, Carmen ilustra a solidão de que falo.


Mostro dois momentos de sua vida e gostaria de colocar o meu corpo como um interlocutor. O primeiro, é de dor, anos 1940 quando surpresa, percebeu que não estava agradando certa plateia. O segundo momento, em plena Holywood, quando vive o esplendor de ser uma Diva estrangeira, com sotaque, de um lugar desconhecido e exótico: America do sul. A Carmen Miranda estrangeira. O que é ser estrangeira?É ser exótica a algum olhar?


Já não sei se foi Raul Seixas, ou Caetano, como ele afirma mas... " Sou estrangeira e sou brasileira."




sábado, 20 de junho de 2009

Carmen

Carmen, a terceira parte da trilogia sobre gênero, estreia em setembro.

A Carmen Miranda de que falo não é a dos shows, dos cassinos, das roupas luxuosas e extravagantes , mas a Carmen, que apesar de toda fama e popularidade, morreu só, e que foi durante a vida amável e elegante com homens e mulheres.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Por que escolhi Carmen Miranda?

Na minha casa há um balde de rolhas de vinho, venho colecionando-as há dez anos, o balde está bem cheio, posso dizer que poucas das rolhas que estão ali foram de garrafas compartilhadas, e as que foram, compartilhei-as apenas por um breve momento. No início era interessante, vivia num lindo apartamento, grande, de paredes coloridas, muito charmoso em que cada canto era minuciosamente decorado, estava sempre limpo e arrumado e embora convidativo para uma outra vida a dois, nunca aconteceu de alguém aparecer com sincera vontade de compartilha-lo comigo. Não sei se eram eles, ou eu, que não tinha vontade de compartilhar uma vida.

Fiz planos durante o tempo nessa primeira casa: quando tirasse o DIU seria para engravidar de vez do meu companheiro, entraria para o mestrado, depois para o doutorado, quando mudasse da casa seria para ir para outro apartamento acompanhada. Chegou o dia que essa linda casa arrumada com muito amor por mim e para mim um dia teve que ser entregue. Fiz a mudança desacompanhada carregando sozinha as caixas de livros e os pertences. O que eram planos individuais eu os realizei, mas todos os em dupla, não consegui. Pelo menos uma coisa a casa arrumada parece ter representado: foco nas minhas escolhas profissionais, mas por que isso, para mim, teve que significar solidão afetiva?

Por muito tempo acho que imprimi um jeito de pensar amor como uma guerra; uma guerra entre os sexos, uma competição, e eu tendo que estar no comando para não perder nada, para não ser enganada ou desrespeitada como minhas antepassadas, por isso, tinha que estar o tempo todo armada para defender-me, estar sempre no controle da situação. Ser mais masculina que feminina. Olhava em volta, e via todas as mulheres da minha geração, independente das famílias e lugares de origem, levando a vida desse mesmo jeito, então não me achava diferente. Acho que não queríamos perder o que já tinha sido conquistado por mulheres antes de nós.

Encarava bem cada fim das relações amorosas acho que por que via amor como algo impermanente, ou que talvez, como algo que pudesse me prender, além de não saber realmente o que era preciso fazer concretamente para amar, não me ensinaram. Na minha ignorância, amar seria algo que naturalmente aconteceria a uma mulher ou a um homem, nada era preciso fazer para conquista-lo e cultiva-lo. A cada fim de uma relação achava que tudo ficaria logo bem já que outros amores me aguardavam e era preciso encontra-los logo.E o tempo até aqui seguiu assim com a carreira como algo permanente, e amores, não.

E é ai que história de Carmen Miranda é também a minha história e de muitas outras mulheres – sim, se a solidão é assunto de ambos os sexos é nas mulheres que a vejo com mais freqüência, por isso escolho Carmen como símbolo dessa solidão que também marca meus trabalhos desde 2003. Observo mulheres que meditam e tentam achar uma solução para combinar a vida amorosa com uma profissão efêmera, competitiva, cheia de glamour e armadilhas, superar tudo e ser bem realizada nela. Carmen em certo momento da vida dizia que queria largar tudo para realizar o sonho de ser mãe e esposa, e isso quando era uma das atrizes mais bem pagas de Hollywood, ganhando mais até que um homem.Mas nenhum homem, é claro, queria ser mr. Miranda Morreu sem conseguir realizar esse desejo.

E é disso que o trabalho fala, por que o sucesso (digo um estrondoso e glamoroso sucesso) é garantia de felicidade para o homem e solidão para a mulher? No entanto, gostaria de falar sobre isso de uma forma alegre, popular e bem humorada tal como Carmen que conquistava homens e mulheres de forma genuinamente leve.