domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ruy Castro: uma desilusão


Muito feliz caminhei até o museu Carmen Miranda no primeiro dia de comemorações do seu centenário. Levava em minha bolsa o livro de Ruy Castro para ser autografado e na cabeça um texto memorizado. Mesmo tendo me preparado o dia inteiro, algo me aconteceu no caminho que cheguei muito atrasada, perdi o debate e tive que ficar para ver o filme e só depois falar com ele. Bom, eu não iria perdê-lo de vista e iria de todo jeito dizer o texto preparado. Mal o filme terminara e, ainda sob o som ensurdecedor das caixas de som, mostrei meu livro a ele que imediatamente entendeu o que queria, foi ai que disse meu muito preparado texto:

- Olha, depois que li teu livro fiquei muito inspirada para fazer um espetáculo! E eu consegui a grana para fazê-lo! Disse isso com um sorriso enorme, infantil e ingênuo, apostando em uma única reposta. Não foi a que veio. Ele secamente responde:

- Você sabe que tem que falar com a família, não? Que tipo de espetáculo?

Aquele sorriso infantil, ingênuo, some do rosto e vem uma cara de frustração enorme.

-Um espetáculo de dança contemporânea. Sim, claro que vou falar com a família. E saio imediatamente dali querendo jogar o pesado livro autografado fora.

Meu Deus! Que amarga decepção. Nunca havia passado por isso; achar que estou homenageando um artista e ele achar que inspiração é sinônimo de plágio ou coisa parecida. Alguém acha mesmo normal hoje em dia deter a propriedade de símbolos tão universais? Como pagar à família cada vez que imitamos Carmen nas ruas e nos carnavais? Há um valor para isso?E pior; mal sabe ele que nós, bailarinos, não criamos espetaculos rentáveis. Que pena que tive esse encontro, podia ter ficado sem essa e ainda hoje estaria encantadissíma com a escrita e narrativa do livro.Que são belas.