sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Simone, eu e Belladona

Qual não foi minha surpresa quando disseram-me que entre a minha foto nua na praia naturista do Rio de Janeiro e a foto das tantas garotas de programa na Internet não havia diferença. Antes de ficar pasma, furiosa ou muito triste tentei colocar meu olhar no mesmo lugar do interlocutor e procurar todas as possíveis semelhanças entre mim e as moças.
Encontrei algumas: nós gostamos do nosso corpo (X); achamos importante por diversos motivos mostra-lo (X); nos alegramos com os elogios recebidos (X); se aproximam de nós apenas os homens que consentimos (X).
Não sei quantos olham mais para mim ou para para o mar quando veem a foto, mas o que quer que façam isso não é um problema meu e que bom que abro espaço na imaginação de meus interlocutores para as suas fantasias... Fora isso, só vi as diferenças... Elas ganham dinheiro com suas fotos; eu não. Elas são infinitamente menos preconceituosas que eu quando fazem suas escolhas, amam os feios, os barrigudos, os peludos; eu não. Já devem ter conseguido superar o medo da violência sexual, pois sabem que é uma exceção, eu não. Estou presa ao mundo perfeito da burguesia, onde todos só vivem para o que é belo, diferente e não se preocupam com os problemas do mundo real. Elas não, tem casa e familia para sustentar.
As moças não se incomodam de serem reconhecidas apenas por suas qualidades físicas, eu, se pudesse - ás vezes - deixaria minhas pernas e bunda saírem sozinhas, meu cerébro as atrapalham muito, pois ele seleciona os candidatos a partir de valores sociais, econômicos e não apenas pelo que importa; olhar, cheiro e sorriso.
Aos 40 anos Simone de Beauvoir, uma mulher culta e bonita, reconheceu sua "velhice" sua não-capacidade de atrair mais seu feio e amado pequeno homem; Sartre.
Deus, livre-me disso, afinal, não sou ateia e pratico minha devoção protestante-cristã indo à igreja aos domingos.

8 comentários:

Carlos Braga disse...

Helena,

Por suas palavras, percebe-se que seu estado emocional no momento de escrever este texto era um tanto abalado. O que não comprometeu sua qualificada redação. Sua escrita é muito boa! Parabéns!

Carlos.

helena vieira disse...

Prezado Carlos,

obrigada.

Você pode ter uma ideia então, da surpresa que foi para mim ter vivido uma experiência como essa...Quando o machismo e o coservadorismo esmagam a experiência simplesmente natural e agradável de um encontro.

Percebo com tristeza o machismo cruel de nossa sociedade ocidental critã-judaica que afasta cada vez mais a possibilidade de vida saudável, plena de prazer e cumplicidade, entre homens e mulheres.

Parece haver nas nossas cabeças uma dificuldae de unir amor ao sexo e não creio que seja natural, mas cultural.

Dizem que os orientais não pensam assim.Não sei, mas gostaria de exemplos mais felizes para nós, mulheres.

Quem sabe nossas crianças encontrarão mais felicidade nessas questões.

Carlos Braga disse...

Oi, Helena.

Por que você faz uma crítica tão severa ao que você chama de sociedade cristã-judaica, e não as demais sociedade? Acredito que seja porque a sociedade cristã-judaica é bem conhecida por você. O dia que você conhecer as demais, também fará as mesmas críticas.

Não vejo a humanidade em evolução, e por isso não me iludo com a possibilidade das crianças terem um mundo melhor. Existe mais tecnologia, mais filosofia, etc... Mas, evolução não existe. O que existe é um mundo mais cruel, mais opressor. A solução para o homem não está no próprio homem.

Abraços.

helena vieira disse...

Caro Carlos,

acho que encontramos um ponto em comum! Sim, é verdade, provavelmente criticaria qualquer outra, se a conhecesse melhor.

Meu papel, como artista, é pensar/questionar e recriar - se possivel- o mundo em que vivo.

Acho que tem razão, também, em não acreditar na evolução, nem nas soluções para o homem no homem. Acho isso bom.

Carlos Braga disse...

Helena,

Vamos seguir então nessa direção...

Já que a solução para o homem não está em si mesmo, onde estaria então a solução...?

Carlos.

helena vieira disse...

Olá, Carlos!

Não consigo pensar em solução, tendo a pensar que é mais importante tentar se "emancipar" pouco a pouco de nossas visões de mundo, sempre tentar renova-las.

helena

Carlos Braga disse...

Helena,

Algumas pessoas tentam fazer o que você propos... E, portanto, seria o homem buscando a solução em si mesmo. A solução não seria por aí então... já que sabemos que ela está fora do homem...

Carlos.

Anônimo disse...

Ué, Carlos, a solução estaria onde? Em Deus? Então, criticarei a sociedade judaico-cristã, ou qualquer outra que sugira isso. O homem é a cruz e a delícia do próprio homem, sua solução e seu desespero está nele mesmo. Eu acho...