sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Wagner Schwartz fala sobre À Simone da Bela Visão


‘por que será que a gente começa de um jeito e termina de outro?’ pergunta helena vieira em seu espetáculo «simone da bela visão». existe algo ali que eu preciso enquanto artista. um corpo inquieto, cheio de marcas, uma beleza mórbida. helena convida o público a entrar em uma sala de ensaio, ou em uma sala de operação em que é necessário abrir os olhos para entender um pouco mais da relação gênero x percepção. perguntas cheias de solidão que levaram a artista a performar seu ambiente em desencanto. questões de dor que apresentam um corpo pronto a sofrer riscos na elaboração de um texto criativo, capaz de ironizar alguns contrastes sociais quase-coloquiais em nossa época: a idéia de feminismo se esgotando em prol de um desejo estético.

helena problematiza questões que envolvem seu corpo-espaço, não pelo crivo de uma critica rígida, sem sucesso, mas pela possibilidade de não querer se incluir em um local aonde o desejo universal se coloca como prótese de solução para questões subjetivas muito mais profundas. ela é carioca e, segundo a artista, o rio de janeiro é a extensão de hollywood, age pelo poder da mídia.

o discurso, o que vem antes-e-depois da performance, pode ainda vir a ganhar força, repensando seu momento de epifania. a operação plástica revisitada como um tema de conflito coletivo poderia não encerrar em si mesma, em seu conjunto de imagens, mas criar uma dobra nas questões subjetivas que a escolha abriga, para analisá-las também em um contexto político.
as teses existencialistas escritas por simone de beauvoir, segundo as quais cada pessoa é responsável por si própria, podem ser a junção literária necessária para que helena construa precisamente o discurso que infere a sua obra artística em uma visão de sua vida e de seu tempo.

_ contudo, existe potência e alteridade nas perguntas de helena.

em seu próximo espetáculo, a vir um pouco mais tarde, ela quer cantar...


foto retirada do site http://www.helenavieira.com.br/

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